A hora da Netflix

Após escrevermos sobre a Tesla, essa semana concentramos nossos esforços em outra gigante do setor de tecnologia: a Netflix.

As ações, que atingiram a máxima histórica há poucas semanas, já devolveram parte dos ganhos e estão sendo negociadas a pouco menos de US$300. A empresa, cuja atual capitalização de mercado passa dos $128 bilhões, acumulando um ganho de cerca de 50% em 2018, está super otimista com relação ao crescimento para os próximos anos.

E, aparentemente, ela tem razões para isso. Seu negócio vem crescendo a uma taxa superior a 30% ao ano há algum tempo e tem previsão de crescimento de 39,8% para o primeiro trimestre de 2018 – nada mal.

Se olharmos para o lucro do ano passado, de US$1,25/ação, os papéis estão sendo negociados a 234 vezes seu lucro. Se assumirmos que a empresa vá crescer 35% em 2018, tudo o mais constante, o P/L (preço sobre o lucro) deve cair para “apenas” 173 vezes – definitivamente, não é uma barganha.

Especialmente, se olharmos para o setor e notarmos que estão entrando quatro competidores de peso: Google, Facebook, Amazon e Disney (que está comprando a 21st Century Fox). A conferência de investidores do final do ano passado chamou minha atenção por ter sido gravada e não ao vivo, como a maioria das empresas faz, e por ter permitido que somente um analista fizesse perguntas, o que é uma outra aberração. Nessa oportunidade, o CEO, Reed Hastings, se mostrou tranquilo com relação aos competidores.

O mercado em que ela atua está crescendo e ainda existem oportunidades de crescimento para todos, mas em alguns anos, será uma brincadeira de “rouba-monte” e os mais “ricos” sobreviverão. A Google, a Disney, o Facebook e a Amazon têm caixa – o mesmo não podemos dizer da Netflix, que depende do mercado de dívida para não afundar. Ano passado eles conseguiram aumentar os preços em 10%, especialmente por causa das novas séries que são um sucesso, mas que implicam num altíssimo custo.

Acredito que nos próximos anos, o crescimento no número de aquisições (novos clientes) entrará em declínio. A empresa deve ter um fluxo de caixa livre negativo esse ano entre US$3 e US$4 bilhões. Em outras palavras, podemos esperar mais emissões de bonds. Os existentes já são classificados pela Moody’s como “junk”, ou grau especulativo, com rating B1. Com a taxa de juros subindo, é de se esperar uma despesa financeira maior e, consequentemente, lucros (se existirem) menores.

Netflix espera “investir” cerca de US$8 bilhões em conteúdo esse ano, o que não é uma quantia pequena. Reconheço que as séries são muito boas, entretanto o custo está ficando alto demais. A empresa, que vem queimando caixa há anos, gosta de reportar sua dívida em relação à capitalização bursátil.  Mas quem não gostaria? Afinal o mercado a está precificando para a perfeição, atribuindo uma relação Preço/Lucro superior a 200!!! Achamos essa comparação inútil. Se as ações caírem, esse índice pode ficar feio muito rapidamente.

A dívida hoje está em US$6,5 bilhões com vencimentos esparsos no tempo, mas, como mencionamos acima, deve subir ainda mais esse ano. A empresa precisa captar por meio de bonds para poder se manter solvente, porém o mercado de bonds se fecha de tempos em tempos. Além do mais, é importante notar um dado que poucos observam, especialmente porque está fora do balanço, que é a dívida contratada para conteúdo, que passou dos US$15 bilhões.

Uma crise nos mercados pode acabar com o sonho e sem acesso a novas emissões de bonds, a empresa poderá se ver obrigada a diminuir investimentos em conteúdo para preservar o caixa (hoje em US$2,8 bilhões), fazendo como que os investidores acordem da ilusão de crescimento absurdo e se atentem para o fator queima de caixa e a própria solvência do negócio.

Acho que os riscos para a Netflix estão aumentando e os retornos já estão precificados. Hora de abandonar o barco.

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