Parte 2 de 3: Conversa com Stanley Druckenmiller

Nesse artigo, vou falar um pouco sobre as visões de Druckenmiller sobre o Japão, o mercado de bonds, como aproveitar a oportunidade (se você é um profissional, claro) sobre um possível crash e sobre a “nova economia”.

Druckenmiller falou sobre um investimento que fez há muitos anos no Japão, quando comprou títulos da dívida japonesa quando esses pagavam 7% a.a., vendendo-os a seguir com um bom lucro. Algum tempo depois, ele viu que esses títulos estavam sendo negociados a 2,5% a.a. e resolveu vendê-los a descoberto – esse foi, segundo ele, o seu primeiro erro que custou US$1 bilhão (os outros foram mais “baratos”).

Ele não entende bem como o Japão funciona, então não negocia mais por lá, embora goste das ações nesse país. Realmente existem ações baratas no Japão, eu mesmo investia lá há pouco tempo e tive um bom retorno – foi, sem dúvida, uma boa experiência.

Druckenmiller disse que acredita que estamos num bear market para os bonds no mundo inteiro. Ele está shorteando muitos bonds de empresas, mas não bonds do governo. Ele recomendou que, quem quisesse shortear esse mercado, fizesse da mesma forma – além do risco de crédito dos emissores fazer com que os spreads aumentem (atualmente estão bem baixos), o investidor também se livraria do risco de impressão de dinheiro por parte dos governos, o que impactaria na tese de investimento.

Druckenmiller acha que os yields dos títulos de dívida devam subir nos próximos 10 anos e que eles deveriam ser negociados a taxas acima do crescimento do PIB nominal (atualmente estão abaixo do PIB real).

Ele comparou as altas no mercado de juros ao jogo de Jenga – você nunca sabe qual será a peça que vai tirar que vai desmontar o jogo, mas eventualmente alguma vai. Da mesma forma, não sabemos qual será o aumento de juros que vai estourar a bolha que estamos vivendo, mas esse crash virá.

Como eu venho dizendo há um tempo, agora é hora de se proteger, não de correr atrás de retornos pequenos com riscos altos – especialmente no mercado de renda fixa (bonds). Por definição, quando os preços estão altos, os retornos são baixos – e vice-versa. Lembrando que eu não olho para risco como volatilidade e sim como a possibilidade de se perder dinheiro.

Druckenmiller acha que, se essa tese se realizar, o preço do ouro deverá subir de forma substancial, já que os BCs serão obrigados a intervir nos mercados para evitar uma catástrofe e imprimirão mais dinheiro. Como eu sempre falo, a única coisa que os BCs sabem fazer é isso, ou, se preferirem, para quem tem um martelo, todo problema é um prego. Nesse contexto, haveria uma desvalorização do dinheiro e, consequentemente, uma valorização dos ativos reais, sendo o ouro um grande beneficiário.

Aliás, essa é a tese pregada por vários gold bugs (amantes do ouro). Ela se materializou por muitos anos, fazendo o ouro subir de cerca de US$200/onça para quase US$2.000/onça em 2011. Desde então, o ouro está um pouco “largado” pelo mercado, mas isso pode mudar rapidamente.

Apesar disso, ele está bastante aberto ao que pode acontecer nos mercados. Segundo ele, não houve período como esse na história, então não há como olhar para trás e tentar entender e prever o que acontecerá dessa vez. Só um adendo à conversa, Ray Dalio, fundador e CIO da Bridgewater, gestora do maior Hedge Fund do mundo, acredita que o que estamos vivenciando hoje é similar ao que aconteceu em 1937, 8 anos após o crash de 1929.

Ele acredita bastante na “nova economia” e está apostando nela contra a “velha economia”. Seria uma espécie de trade apostando na alta da Amazon e na baixa da Sears. Da última vez que eu o encontrei, ele já falava nisso – então, pelo menos nesse sentido, pouca coisa mudou. Ele gosta muito das empresas que oferecem serviços de cloud (nuvem) e acha que essa será uma grande aposta.

As visões de Druckenmiller sobre os mercados são sempre válidas e interessantes. Anos de experiência e um humor inteligente fizeram da conversa um evento memorável. Falarei no próximo e último artigo da série um pouco mais sobre as visões de Druckenmiller, em especial quanto ao Brasil, e da sua dificuldade em usar ferramentas, antes excelentes, para prever os acontecimentos nos mercados.

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