Em abril de 2017, postamos mais um artigo em que explicávamos porque shortear (vender a descoberto) ações da Tesla novamente (https://l2capital.com.br/pt/?s=tesla), após obtermos excelentes retornos adotando essa posição em meados de 2015.
Em primeiro lugar e, mais uma vez, é importante deixar claro nossa visão da empresa, do seu fundador e do segmento: gostamos de todos, achamos a Tesla revolucionária, Elon Musk um visionário e acreditamos que os veículos elétricos são o futuro.
Veículos elétricos são mais seguros, possuem um custo menor de manutenção, um custo menor de abastecimento, causam menos poluição (depois de fabricados e enquanto estão rodando) e têm um valor de revenda mais alto.
A Tesla conseguiu endereçar os três pontos negativos: o tempo de demora para abastecimento (recarga), a autonomia dos veículos (que era muito curta e agora já atinge distâncias acima de 400 km) e o custo das baterias.
A grande dúvida é por quanto tempo a Tesla vai conseguir “queimar caixa” sem causar stress aos seus investidores. Por enquanto, estamos vendo a paciência desses manter-se em níveis extremamente altos, dando ao CEO da empresa tempo suficiente para seguir adiante com seus projetos.
Temos que entender que, aparentemente, os investidores de Tesla são diferentes dos investidores de Ford e GM. Enquanto os primeiros estão preocupados com crescimento, os segundos estão mais preocupados com os lucros e os dividendos. Assim, os primeiros estão dispostos a aceitar prejuízos por um certo período de tempo em troca de um crescimento maior, enquanto os segundos não.
Podemos até traçar um paralelo entre a Amazon e a Tesla. A Amazon também “queimava caixa” nos primeiros anos de operação, reinvestindo pesadamente no negócio para fazê-lo crescer. Obviamente, a Amazon não diluía seus investidores todos os anos nem levantava dívidas para investimento, pondo em perigo sua sobrevivência.
Mas a Amazon tampouco tinha que investir em uma rede de superchargers, o que requer alto CAPEX, nem em fábricas, etc. Embora ambas empresas sejam consideradas pertencentes ao setor de tecnologia, as peculiaridades fazem a diferença e as comparações pouco relevantes.
A Tesla vem investindo nos últimos anos, em média, 23% de suas receitas do ano seguinte em CAPEX. Nisso ela tem sido (até hoje) consistente. Como as vendas estão subindo, o CAPEX, embora esteja aumentando, vem se comportando bem nesse período. Assim, se aceitarmos que as vendas da Tesla devem aumentar nos próximos anos, esse valor de CAPEX, em termos relativos à receita, deve diminuir, levando a empresa à lucratividade.
A empresa ainda tem cerca de US$3,5 bilhões em caixa e a vantagem de ser a primeira a focar 100% no setor de carros elétricos. Se a empresa continuar com esse volume de CAPEX e SG&A (desembolsos com vendas, gerais e administrativos), esse caixa durará somente até o segundo, talvez terceiro trimestre de 2018. Assim, uma nova emissão de ações ou dívida é esperada.
Além disso, tiveram problemas na fabricação do Modelo 3 e o flamboyant CEO anunciou ainda a picape e o caminhão elétrico, dois bons desafios. Sem contar que a Tesla absorveu a Solar City em 2016, empresa que, assim como a Tesla, só dá prejuízo.
Bom, a grande questão é quanto tempo a empresa vai conseguir se financiar no mercado a termos super benéficos.
O setor é realmente empolgante e vem atraindo a atenção de gigantes, como da Volvo, Audi, VW, BMW, etc. Essa nova competição aparece justamente quando estão terminando as vantagens fiscais para a compra de carros elétricos, um dos maiores benefícios para os compradores. A título de exemplo, em Hong Kong, as vendas da Tesla caíram de 2.939 veículos em março de 2017 para zero em abril, quando acabaram as vantagens fiscais. Lembrando que a Amazon não teve essa competição.
A Tesla já montou uma sólida infraestrutura de superchargers que lhe dá uma grande vantagem sobre as outras montadoras nos EUA, mas investidores precisam ajustar seus modelos constantemente. Os objetivos traçados pelo CEO quase nunca são concretizados no tempo sugerido e sempre aparecem “novidades” ou, como preferem os mais céticos, mais custos e queima de caixa.
Um ponto interessante que ouvimos do Sr. Robert Maurer é sobre a competição. Os CEOs, conselhos e diretores das grandes montadoras têm idades acima de 55 anos, com visão de ficar, pelo menos, mais uns 10 anos à frente dessas empresas. Em 10 anos, os carros elétricos não vão tirar todos eles do mercado. Assim, como a compensação desses profissionais é diretamente ligada ao desempenho financeiro da empresa, eles têm pouquíssimo incentivo para aumentar o CAPEX dessas empresas e, consequentemente, diminuir a geração de caixa por agora.
Além disso, a base de investidores deles também é apegada aos dividendos e às margens/lucros e tampouco vão querer ver dividendos cortados e menores lucros nos próximos anos.
Apesar disso, mantemos nossa visão sobre a Tesla: ela é uma empresa diretamente ligada aos excessos dos tempos em que vivemos, onde os Bancos Centrais brincam com a taxa de juros e manipulam os preços de tudo. Ela, sem dúvida, pode conseguir se sair muito bem dessa situação e liderar um novo segmento no setor automotivo, mas não há garantias.
A Tesla pode ser encarada como uma aposta no sucesso dos BCs em empurrarem o problema mais para frente. A empresa precisa de tempo suficiente para se financiar no mercado e atingir a lucratividade. Não sabemos quanto tempo isso pode levar.
Assim, mantemos nossa visão negativa sobre o valuation da empresa e achamos que o cenário benigno em que a empresa navegou até hoje está se transformando rapidamente em uma tempestade. Hora de abandonar a embarcação…