Cada mania tem sua peculiaridade, mas sempre uma coisa em comum: preços estratosféricos e expectativas totalmente fora da realidade. Elas sempre começam com algo realmente inovador e interessante, e esse é o problema: aquele pequeno grão de verdade acaba servindo como segurança para uma nova tecnologia/mercado, as expectativas de retorno se multiplicam e o desejo de ficar rico rápido (ou o medo de ficar de fora) acabam tomando conta.
Bolhas são geradas em vários setores, a mais impressionante no momento observamos nas criptomoedas. Tulipas são coisas do passado e, olhando para o setor de criptomoedas, até que as flores que encantaram os holandeses no século XVI têm valor – aliás, parecem mesmo uma barganha! Hoje em dia, basta uma empresa incluir as palavras blockchain ou crypto-alguma-coisa em seu nome para ver seu preço disparar – ainda que esse denominação não tenha nenhuma relação concreta com o que tal empresa deseja fazer.
No dia 21 de dezembro, uma pacata empresa de Nova Iorque chamada Long Island Ice Tea, uma pequena produtora de chás gelados, como o nome já sugere, e outras bebidas não alcoólicas, resolveu mudar de nome e se chamar Long Blockchain. Com essa “importante” mudança, suas ações dispararam quase 300% no dia!
O mesmo ocorreu com Bioptix em novembro, após a também “importante” mudança de nome para Riot Blockchain, quando suas ações dispararam mais de 1.000%. On-line Plc, agora On-line Blockchain, também entrou no jogo e viu suas ações se valorizarem quase 400%.
A mais famosa de todas, a Kodak, também anunciou que está criando as Kodakcoins. Suas ações, como esperado, dispararam 200% com o anúncio. Vale dizer que a Kodak tem um track record comprovado em entrar em novas tecnologias bem tardiamente…
Muita gente vem falando da nova tecnologia de blockchain, sua importância e quantos usos diferentes ela terá. Vale a pena lembrar que essa tecnologia está disponível há quase 10 anos e até hoje a única coisa que vimos foi a proliferação de criptomoedas, que hoje já passam de 1300. Esperamos com ansiedade os novos usos e aplicações dessa revolucionária tecnologia.
Bitcoin, a mais famosa de todas, tem como forte base de “investidores” o varejo japonês, responsável por 40-50% de todo o trading. Americanos e sul-coreanos também são têm papel significativo nesse mercado também. Importante dizer que mais de 96% dos bitcoins já “minerados” até hoje estão nas mãos de menos de 2% dos endereços. Apenas pouco mais de 3% refletem a movimentação real do mercado.
Sem falar que para ser realmente aceito como dinheiro, o bitcoin ainda tem muito que provar, já que não constitui uma reserva de valor, é extremamente volátil, os custos de transação ainda são bastante elevados e a velocidade das transações também deixam muito a desejar. Isso sem contar com os “forks”, que criam moedas a partir do nada, às vezes até dobrando o número de moedas já mineradas. Está aí algo que os Bancos Centrais ainda não fizeram. Ainda.
Achamos super interessante o conceito de não haver um Banco Central responsável pela emissão de moedas e definição da taxa de juros. Na nossa visão, essa última deveria ser descoberta, ou melhor dizendo, definida pelas forças de mercado, assim como o preço de produtos e serviços. Mesmo assim, não arriscaríamos entrar em criptomoedas no momento. Parece uma bolha, comporta-se como uma bolha – talvez porque seja uma bolha!