Mais um dia da novela Tesla, o terceiro desde que Musk anunciou que iria fechar o capital da empresa a US$420 e que os recursos para tal já estavam garantidos.
Vamos aos fatos. Na próxima semana tem o vencimento do cupom do bond de 2025 no valor de US$48 milhões, mais US$82,5 milhões de uma dívida da SolarCity, uma empresa com sérias dificuldades de solvência comprada há dois anos pela fabricante de automóveis. Toda essa complicação não está melhorando a situação financeira da empresa.
Gosto de olhar para o que realmente importa e ignorar o hype, esse marketing exagerado, quase místico, que acompanha a empresa e seu fundador. No final do primeiro semestre, a Tesla tinha em caixa (descontando os adiantamentos de clientes que fizeram reservas) no valor de US$1.3 bilhão. Sabendo que a empresa queima cerca de US$700 milhões por trimestre, em média, temos mais 6 meses de fôlego.
No meu último post, tentei não falar sobre o Conselho da empresa, mas está ficando cada vez mais difícil ignorar tamanha incompetência. Ontem a Reuters noticiou que o Conselho da Tesla solicitou a Musk informações sobre o financiamento que ele alegou já ter conseguido para o fechamento de capital da companhia. Isso gerou grande espanto, afinal, segundo o próprio Conselho, o assunto teria sido discutido semana passada em reunião. A dúvida é se eles não pediram essa informação quando o assunto foi tratado (se é que realmente foi) ou se o Conselho chegou a solicitar, mas Musk negou. Essa história está ficando cada vez pior. Lembrando que os membros do Conselho também podem ser processados e responsabilizados.
Assim como um junkie, que precisa de doses cada vez maiores de seu “medicamento” para manter o high, a Tesla precisa de estímulos cada vez mais mirabolantes para sustentar o preço de suas ações, já que a realidade é um pouco dura demais. Assim, as doses de “estímulo” para a empresa têm que ser levadas a patamares cada vez maiores, culminando no último, o fechamento de capital. Agora será difícil voltar para o simples “vamos abrir uma nova fábrica” ou “vamos lançar um novo veículo” ou “vamos vender pranchas de surf”, já que o patamar subiu bastante.
Com a mensagem divulgada pelo seu perfil no Twitter, além de passar por cima da legislação americana, Musk também chamou (finalmente) a atenção da SEC, a CVM americana, que está investigando o caso. A questão que resta é tentar descobrir se existe mesmo alguém disposto financiar um buyout que, se for adiante, será o maior da história, em cima de uma empresa que queima caixa e tem bastante dívida. Uma insanidade dessas seria um marco para o ciclo econômico em que nos encontramos e poderia sinalizar um pico.
Como mencionei no último post, acho que a tese de venda a descoberto se fortaleceu. O downside, se existe, é de US$420. O upside é zero! Contudo, é importante salientar que essa não é uma recomendação e ninguém deve tomar decisões de investimento com base nesse artigo.