Preços altos e expectativas de retorno que extrapolam o bom momento implicam, por definição, em menores retornos à frente.
Os Bancos Centrais tiveram algum êxito em trazer para o presente o consumo futuro, por meio de suas políticas de impressão de dinheiro afrouxamento quantitativo, suavizando a crise financeira. Mas isso terá um custo enorme para a sociedade. Impressão de dinheiro nunca funcionou e duvidamos que esse seja o primeiro caso de sucesso na história.
Nosso caso de hoje é sobre uma empresa bem conhecida, fabricante de aviões comerciais e militares, além de vários outros produtos de tecnologia avançada, como satélites, veículos espaciais, etc., a Boeing.
A empresa, que está incluída em vários ETFs (Exchange Traded Funds), vem apresentando retornos impressionantes no mercado acionário. Em 2017, suas ações subiram nada menos que 89%
Para quem esperava uma realização de lucros logo em 2018, a surpresa foi maior. A empresa postou ganhos de quase 20% nas primeiras 3 semanas do ano. Se extrapolarmos isso para o ano (obviamente não é algo apropriado), seria equivalente a um retorno superior a 500% em 2018.
O divertido nesse mercado de hoje é que, quanto mais uma ação sobe, mais os ETFs e fundos passivos têm que comprar. E quanto mais eles compram, mais ela sobe. É um círculo virtuoso para os acionistas e, claro, para o management. Obviamente, isso tem um fim e é onde começa o círculo vicioso. Mas esse é uma assunto para outro post.
Mas vamos olhar para a empresa e suas operações. A redução na taxa dos impostos corporativos para 21% certamente vai ajudar, mas será que as ações seguirão em alta? Quanto disso já está incorporado no preço?
Os resultados do quarto trimestre da empresa serão conhecidos no dia 31 de janeiro. E, claro, os analistas estão correndo atrás. Em janeiro, a Cohen atualizou seu preço-alvo para a empresa de $320 para $415. O mesmo fez o Credit Suisse, que o elevou de $310 para $375.
Apesar disso, a possível (e provável) futura sócia da Embraer não está crescendo tanto assim. A expectativa de crescimento dos lucros por ação para 2018 é de apenas 2,3%, enquanto a empresa negocia a mais de 30x os lucros. A Boeing tem um short float (volume de ações vendidas a descoberto) muito baixo, de apenas 1,28%, o que nos dá mais uma dimensão do otimismo do mercado com a companhia.
Os analistas gostam da empresa, segundo eles, por causa de um boom no setor de tráfego aéreo e uma escalada mundial na área militar, ambos dominados pela empresa sediada em Chicago. Na nossa opinião, os analistas gostam da empresa por causa dos buybacks. A empresa anunciou em dezembro mais um programa de recompra de ações, esse último no valor de US$18 bilhões para os próximos 2 anos e meio. Também aumentou o valor dos dividendos, de 2% para 2,2%.
Vemos o setor no momento com um pouco de cautela, até mesmo por causa da empolgação do mercado. Além do risco de execução e potenciais atrasos nos programas, o preço do petróleo se mantendo alto e o dólar forte podem prejudicar a empresa. Depois de uma alta extraordinária nos últimos meses, um pouco de cautela não faz mal…