Bull market, mas não para todos

Antes de ontem saiu uma notícia na Espanha, ainda não confirmada oficialmente, da não concessão de licença para a operação da mina de urânio perto de Salamanca. Essa seria a única mina de urânio em operação na União Europeia, o que garantiria excelentes retornos, por estar perto de um grande mercado consumidor, sem concorrência. A França, por exemplo, gera quase 80% da sua energia a partir de reatores nucleares.

A dona dos depósitos, Berkeley Energia, viu suas ações caírem cerca de 30% logo após o anúncio e mais quase 23% ontem. Sem dúvida, se o governo espanhol seguir com tal decisão, o baque para a empresa será enorme. Aliás, será total – de que vale ter o minério no chão, se não é possível minerá-lo?

Os acionistas da Berkeley, que viram o valor de mercado das suas ações caírem mais de 75% esse ano, ainda estão alarmados. Afinal, as ações ainda podem cair mais – o chão é o limite, e ele pode não estar longe.

Eu venho acompanhando o mercado de urânio há um tempo e essa empresa, apesar de ter gente boa envolvida e um excepcional projeto, nunca conseguiu me convencer. A burocracia da União Europeia e de governos latinos não é fácil de lidar e o nível de risco que os investidores correm é enorme – muitas vezes, sem saber.

Assim, não basta acertar o setor da vez, como no caso, o urânio, que sobe bem esse ano e já está em bull market. É necessário saber quais empresas escolher e qual preço pagar por elas. Muitas vezes o risco não está aparente e é necessária uma atenção especial antes de investir.

A Berkeley pode ainda conseguir a licença para abrir a mina e as operações andarem bem, mas fatos como esse mostram o quão complicado e incerto o ambiente pode se tornar.

Cheguei essa semana de uma viagem aos Estados Unidos e Canadá, onde visitei várias empresas no setor de urânio e, com base na minha experiência, fica mais fácil detectar quais projetos têm chance, quais projetos não, qual o diferencial dos diretores, qual o potencial de ganho para uma mina, quais os custos atrelados, etc.

Ainda assim, é praticamente impossível desenvolver um modelo à prova de falhas. Mineração é algo bastante complicado e problemas tendem a aparecer de todos os lados, às vezes de onde menos se espera. Assim, o mais importante, na minha opinião, são as pessoas envolvidas. Elas fazem o diferencial em projetos e são capazes, às vezes, de transformar algo ruim em algo bom.

E nada como a experiência para poder entregar resultados. Eu sempre busco conversar com os diretores e entender a experiência pessoal de cada um. Não é suficiente, por exemplo, ter operado uma mina de ouro na África com bastante sucesso e tentar prospectar urânio na Ásia. São habilidades diferentes em mercados diferentes e processos bem diferentes. O fato de uma pessoa ter tido sucesso em mineração de ouro, não quer dizer, de maneira alguma, que tal pessoa também terá sucesso buscando urânio (ou outro metal qualquer).

É importante entender quais são as diferenças entre prospecção, desenvolvimento e mineração, saber que países diferentes têm regras diferentes e que a estabilidade política é essencial – de que adianta encontrar uma mina extremamente lucrativa em um país onde o governo pode encampá-la do dia para a noite?

Continuo acreditando que o urânio apresenta o maior potencial de retorno com menor risco para os próximos anos, mas é preciso entender bem do mercado para evitar problemas como o investimento na Berkeley. Definitivamente não é um mercado para amadores.

Só lembrando que o Fundo de urânio da L2 Capital, lançado há pouco menos de duas semanas, já apresenta uma alta de quase 15% (infelizmente ele está fechado para novos investimentos).

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