Terminamos o primeiro semestre de 2016 passando por mais um mercado turbulento e esperamos que a volatilidade continue e, possivelmente, aumente até o final do ano.
São muitos os riscos que os mercados estão ignorando, sempre contando com a manipulação de preços pelos Bancos Centrais (BC). Infelizmente, ao aliviarem as essas quedas dos preços, os professores burocratas no comando dos BCs estão simplesmente postergando o inevitável e tornando as consequências muito mais perversas.
O grande exemplo recente foi o Brexit – uma surpresa total para os mercados , fazendo com que a libra esterlina despencasse, arrastando Bolsas no mundo inteiro com ela. E o que os BCs fizeram? Prometeram o de sempre, mais liquidez, mais compra de bonds e menos juros! Resultado: as bolsas voltaram a subir, ignorando completamente um dos maiores acontecimentos desse século, como se não fosse nada!
Vamos listar os potenciais problemas mais óbvios que os investidores estão ignorando – claro, esses são os conhecidos. Pode haver ainda um “cisne negro” que tornaria a situação ainda pior!
- A alavancagem dos países;
O nível de endividamento dos países está atingido patamares elevados em termos de Dívida/PIB, principalmente em países com economias estagnadas ou recessivas, como o Japão (229%), Itália (133%) e Zona do Euro (90%). Líder dessa lista, o Japão já consome 41% da sua receita de impostos somente para servir a dívida (isso, porque a taxa de juros básica de lá é negativa!!).
- Eleições nos EUA;
Os prognósticos para o futuro dos EUA não são nada animadores. Além dos inúmeros problemas que sempre mencionamos (juros zero, baixo crescimento, alto desemprego, alta nos preços dos ativos, etc), haverá também eleições naquele país e os candidatos não são lá os melhores. E olha que é um brasileiro falando isso…
- Juros zero e até mesmo negativos em grande parte do mundo;
O estoque de dívida governamental com taxa de juros negativa está crescendo e atingiu 11,7 trilhões de dólares no mês passado, quase o dobro do início do ano. Consideramos inconcebível a ideia de se investir em um título de dívida que, se mantido até o vencimento, trará retorno negativo.
- A dívida corporativa que assusta;
As empresas aproveitaram o cenário de taxa de juros extremamente baixa para tomarem dívidas. Em vez de investirem em inovação, pesquisa, desenvolvimento e expansão, os executivos optaram por remunerar os acionistas fazendo buybacks, turbinando, assim, os próprios bônus, mas deixando a empresa fragilizada. Quando as taxas de juros tiverem que subir, as empresas estarão com uma estrutura de capital comprometida e com pouca competividade e terão que emitir ações no pior momento, quando os investidores estiverem vendendo, derrubando os preços do mercado acionário ainda mais.
- Crise bancária na Europa (principalmente Itália).
A Itália responde por menos de 10% do PIB da Europa, mas os NPL’s (empréstimos inadimplentes) desse país já representam quase 1/3 do total do continente. A fragilidade do sistema bancário europeu está nítida.
- Uma possível (e provável) desvalorização da moeda chinesa
Grandes investidores como George Soros e Kyle Bass vêm apontando para o que parece ser o trade do ano: a impossibilidade da China manter o peg com o dólar. Se no ano passado, quando a China desvalorizou sua moeda em pouco mais de 2% os mercados ruíram, imagina o que aconteceria se houvesse uma maxidesvalorização lá.
- O default de Porto Rico;
É a prova de que rachaduras já estão se formando no sistema. O pequeno território de Puerto Rico não conseguiu honrar o pagamento de suas dívidas e já sinalizou que não deve honrar os próximos. Por enquanto, os mercados não prestam atenção nisso, pois o choque é pequeno, mas tendo em vista o que a Grécia fez com os mercados há dois anos, sabemos que o impacto não é nulo.
- A exposição do Deutsche Bank a derivativos (impressionantes US$70 trilhões, ou quase 20x o PIB da Alemanha);
Uma exposição tão grande a derivativos deixa o maior banco da Alemanha extremamente suscetível a estresses no mercado e movimentos abruptos de ativos podem ocasionar uma quebra de tal proporção, que nem a maior economia da Europa conseguiria resgatá-lo. E tal quebra enviaria choques por todo o mundo, já que todos os grandes bancos têm exposição (contraparte) ao Deutsche.
- A sempre atual dívida grega (que continuamente é rolada com mais poderes sendo entregues à União Europeia);
A cada roda de negociações, a dívida é postergada com a contrapartida de maior austeridade do governo grego, que aos poucos abre mão de sua soberania e se curva aos burocratas da UE. A população sofre e pequenas revoltas (protestos) começam a aparecer.
- A agressão da OTAN à Rússia (que agora quer incluir a Finlândia), os atentados do ISIS e a guerra na Ucrânia.
Os conflitos se amontoam e muitos analistas já acham que uma guerra se aproxima. São muitos “pequenos problemas” em várias regiões que estão escalando em retórica e gestos. E não vamos nem entrar em detalhes com relação aos mais de 1 milhão de refugiados que entraram na Europa nos últimos meses…
- O Brexit propriamente dito;
Os resultados do Brexit ainda não estão claros. A libra esterlina se desvalorizou e certamente alguém (hedge fund ou banco) sofreu perdas em alguma posição. Isso também vale para o mercado imobiliário, que é bastante ilíquido e, no caso de Londres, está super valorizado.
Esses são os riscos mundiais, nós brasileiros ainda contamos com mais um: a volta dos que não foram, ou a não materialização do impeachment da presidente Dilma! Ainda não é certo o afastamento da (ex)presidente, mas os mercados nem cogitam essa hipótese. É válido mencionar que nós não esperamos que ela volte, mas esse é um risco que não devemos ignorar. Uma possível falha no processo de impeachment pode deflagrar uma venda indiscriminada de ativos brasileiros.
Mas as Bolsas continuam em alta, sempre com a mesma retórica: as notícias são ruins suficientes para manter as taxas de juros nas mínimas históricas, mas não tão ruins que façam as Bolsas caírem… Inacreditável!
Como somos bastante criteriosos nos nossos investimentos, tivemos mais uma vez, uma performance fantástica: nossas carteiras internacionais subiram, em média, 15% nos seis primeiros meses de 2016. Grande parte disso se deve ao posicionamento das mesmas em mineradoras de ouro e prata, ganhos de oportunidade (como Mitsubishi, Magnesita e Petrobras) e operações de financiamento (principalmente com a prata).
No lado brasileiro, nosso Fundo Multimercado já opera com ganhos líquidos de pouco mais de 150% do CDI nos últimos 12 meses e acreditamos que essa performance deva se manter até o final do ano.