Os principais índices acionários dos Estados Unidos fecharam mais um mês estabelecendo novos níveis recordes, apesar de indicadores econômicos não convincentes e do vislumbre de mais uma subida no FED funds rate. Ao mesmo tempo, a volatilidade tem se mantido em patamares historicamente baixos, o que assusta.

O mais interessante seja talvez notar que além dos fundamentos econômicos não sustentarem a exuberância dos mercados, o front político também não deveria inspirar nenhuma empolgação. Domesticamente, os EUA vivem momentos de indecisão com um governo muito questionado, que ainda não demonstrou ter o apoio parlamentar necessário para cumprir suas promessas.

Externamente, crescem as tensões na península coreana, que colocam os gigantes da geopolítica mundial em lados opostos do tabuleiro. Os EUA e o Japão, incomodados com as provocações, ameaças e demonstrações bélicas do governo de Pyongyang, engrossam o discurso e prometem reagir. Ao mesmo tempo, a China, principal aliada dos norte-coreanos, insiste numa saída diplomática e apoia o regime de Kim Jong-un, embora retoricamente o critique pelos seus testes nucleares e balísticos. Rússia, que também faz fronteira com o combativo país, tal como o governo de Beijing, recusa-se a promover um isolamento econômico, como proposto por Washington, e teria até movimentado tropas em direção à fronteira como demonstração da oposição a qualquer ação militar norte-americana na região.

Os bancos espanhóis e italianos seguem com problemas e falta de liquidez, embora isso não seja mais noticiado pelas agências de notícia. Tampouco a situação grega, que nunca se resolveu e deve ressurgir novamente com mais uma impossibilidade desse país honrar os compromissos estabelecidos da última vez.

O Deutsche Bank, que segundo o FMI é a maior ameaça financeira para a estabilidade mundial, também segue com sua posição absurda em derivativos. De alguma forma, isso saiu do radar das pessoas.

Porto Rico, um estado americano, também declarou bancarrota (há especulações de quem será o próximo). Com baixo crescimento, welfare state, grande número de desempregados (ou subempregados), alta dívida e juros subindo, não faltam candidatos.

Conflitos no Iêmen, Mar da China, Coréia e Ucrânia não aliviam as tensões. Sem contar com os inúmeros ataques terroristas nas principais cidades europeias, que põem em risco a recuperação econômica dessas regiões (vários voos para Londres foram cancelados após os atentados de sábado).

Bolhas absurdas em empresas de tecnologia nos EUA (leia-se Amazon, Netflix, Uber, Tesla e afins), bolhas imobiliárias no Canadá e Austrália e os inúmeros problemas na China só aumentam nossa percepção de que agora deveria ser um momento de cautela.

Acreditamos que a passividade dos mercados diante de tais circunstâncias inspira ainda mais cuidado e reforça nossa visão de que uma abrupta virada, quando ocorrer, será brutal. É impossível prever o quando, mas conseguimos ver com clareza que o nível de alavancagem dos mercados está subindo.

O Brasil não está fora do mundo e participa diretamente dos acontecimentos mundiais. Sem dúvida, acontecimentos em outras partes tem impacto forte aqui.Não bastasse isso, como mencionamos no começo do ano, ainda temos nossos próprios problemas, como a possível cassação da chapa Dilma-Temer, a falta de ímpeto do Congresso em passar as devidas reformas, a retomada da economia, etc.

Como somos gestores, temos que tirar proveito da situação como a vemos. A turbulência nos mercados brasileiros no dia 18 de maio trouxe oportunidades em ativos negociados no exterior e, dias depois, acrescentamos à carteira uma posição em bonds da Eldorado Brasil Celulose, empresa de propriedade da J&F Participações, que também é uma das donas da JBS. Detentora da maior fábrica de celulose em linha única do mundo, com privilegiada localização, logística competitiva e autossuficiência energética, a Eldorado é operacionalmente bem estruturada, mas segue pressionada por um endividamento alto. Por esse motivo e em razão do escândalo envolvendo sua controladora, conseguimos adquirir bônus vincendos em 2021 em um momento de stress. Em menos de uma semana, já contabilizamos um ganho de 14% no valor de face do papel, que, além disso, paga 8,625% de cupom. Em meio a tudo isso, ecoam ainda os rumores de que ela venha a ser alvo de aquisição de uma das duas gigantes do setor no Brasil, Fibria e Suzano.

Nossas carteiras se beneficiaram dos acontecimentos, especialmente porque já havíamos vendido boa parte das NTN-Bs que adquirimos no final de 2015, após uma mega-valorização (ver nossa publicação de janeiro, onde já falávamos sobre os riscos das NTN-Bs: https://l2capital.com.br/pt/ntn-b/).

Além disso, nossas puts subiram mais de 200% no dia e garantiram aos nossos clientes um bom momento de liquidez para poder montar novas operações (fizemos alguns financiamentos com os recursos dessas puts e aumentamos nossa exposição à Magnesita e BBFI, ambos amplamente divulgados nesse blog).

Assim, nossas carteiras fecharam com rentabilidade bem acima do CDI no mês (e, claro, no ano também). Até mesmo nosso Clube de Ações fechou em alta no mês, apesar da queda do Ibovespa.

Monitoraremos essa e as outras posições de perto para determinar o melhor momento de saída. Mas continuamos afirmando: quando todos estão do mesmo lado do barco, o barco tende a virar…

Comentários

    LAURO ARAUJO SILVA NETO
    8 de June de 2017

    Muito bom. Seria interessante um artigo focado em Brasil.

    Obrigado

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