Por Rafael Siqueira
Uma coisa certamente aprendemos com a eleição de 2014, o Brexit e a eleição presidencial americana: não podemos acreditar piamente nas pesquisas eleitorais. O mercado, de uma forma geral, foi tomado por grande surpresa desde o início da apuração dos votos na noite de terça-feira. Isso, obviamente, gerou movimentos expressivos em moedas, commodities, futuros, ações e bônus. Ao longo do dia, os ânimos parecem ter se acalmado e boa parte dos ganhos/perdas foram atenuadas, havendo inclusive reversões de alta para baixa e vice-versa. Aos poucos, os participantes parecem digerir os acontecimentos e tentar antever os possíveis impactos.
Ao se acompanhar o noticiário nacional, americano e europeu, percebe-se que mídia já não se importa mais com a imparcialidade e deixa explícita sua preferência. Chama a atenção, particularmente, o que está sendo veiculado na imprensa alemã. Trump está sendo chamado de irracional, insensato, indisciplinado e descontrolado, o declaram inimigo e decreta-se o fim da relação amigável quase centenária entre os EUA e a Europa, atribuindo à Alemanha, ainda, o papel de mantenedora dos valores ocidentais.
Trump, um outsider, conseguiu ascender ao cargo político mais importante do planeta, apesar do claro esforço contrário da grande mídia, das grandes instituições e personalidades e do “abandono” do próprio partido Republicano. Seu discurso inflamado, de alguma forma atingiu a população cansada da classe política e insatisfeita com piora no padrão de vida norte-americano, confirmando nossa tese de que não há recuperação alguma por lá. Ajudou também a grande rejeição à candidata democrata. Em proporções muito mais modestas, vimos os também outsiders Kalil e Doria, se elegerem para prefeitura de importantes cidades brasileiras. Não é nossa intenção registrar um posicionamento político, mas sim salientar uma clara tendência.
As propostas do eleito, algumas com tom populista e protecionista, envolvem esforços no setor de infraestrutura e de saúde, revisão de tratados comerciais e redução drástica na tributação de empresas. O fato dos republicanos deterem maioria nas duas casas do congresso pode indicar que o caminho deve ser menos árduo para aprovação de medidas capitais, como a extinção do Obamacare, mas é importante lembrar que Trump está longe de ser uma unanimidade no próprio partido. Como, quando e se as propostas irão à frente permanecem incógnitas.
O que podemos esperar a partir de agora é uma maior volatilidade nos próximos meses, dadas as incertezas com relação à condução da economia e política norte-americana.
Um movimento em especial merece destaque: os yields dos Treasuries estão sofrendo elevada apreciação. Se o FED não sobe a taxa, o mercado o faz. Começamos a duvidar que o FED vá subir a taxa de juros em dezembro e que provavelmente até vá cortá-la no ano que vem. O mercado prevalece e uma correção significativa é de se esperar em bonds com duration mais longo.
Mais uma vez, recomendamos aos nossos clientes uma exposição aos metais preciosos (na forma física, de preferência, ou através de ações de mineradoras) e a venda de bonds com vencimento após 2020-22.