Como o cenário econômico mundial se mostra ainda nebuloso, especialistas se dividem quanto à possibilidade da tão propalada recuperação global ocorrer em 2017. Para alguns, a retomada não passa, pelo menos por enquanto, de uma hipótese, que vai se “alimentando” de especulações políticas. Outros, porém, acreditam que países como Estados Unidos e China já dão sinais de crescimento, confirmando as expectativas de parte do mercado. Divergências à parte, ambos os lados concordam em um aspecto: se efetivamente ocorrer a recuperação, o Brasil pode “pegar uma carona”
e se beneficiar com o aumento da demanda por commodities.
O caminho pode estar na América do Norte, mais precisamente nos Estados Unidos. Na visão de analistas do mercado financeiro, se a proposta do presidente Donald Trump de destinar US$ 1 trilhão em dez anos para investimentos em infraestrutura nos EUA realmente se concretizar, o Brasil poderá levar uma grande vantagem, principalmente nas exportações de minério de ferro. O aquecimento na economia mundial poderá puxar ainda as negociações de outras matérias-primas nacionais, como petróleo e soja.
“Se o Trump fizer esse esforço para ativar a infraestrutura dos EUA, haverá mais consumo de aço, de cobre e minério de ferro. Então, há sim a possibilidade de ter um incremento no Brasil em função da maior demanda dos EUA por essas commodities. Ao mesmo tempo, a economia global está dando sinais de crescimento neste ano. A China, por exemplo, estamos projetando um aumento do Produto Interno Bruto (PIB) de 6%. Então, a economia internacional deve crescer neste ano, o que traz aumento da procura por matérias-primas”, ressalta o analista do Banco Geração Futuro, Rafael Weber.
O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro destaca que, desde a eleição de Trump, o preço do minério de ferro subiu 70%, com a tonelada sendo negociada ao mercado externo por US$ 58. O dirigente atribui a alta da cotação do petróleo à política adotada pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) em 2016. A entidade optou por reduzir a produção do combustível fóssil a partir deste ano com o objetivo de trazer estabilidade ao mercado.
As duas commodities, somadas à soja, para Castro, serão responsáveis por impulsionar as exportações brasileiras em 2017, já que a expectativa é por queda nas vendas dos manufaturados. Segundo o presidente da AEB, as negociações das matérias-primas com o mercado externo devem garantir o superávit previsto pela entidade de US$ 51 bilhões na balança comercial do Brasil neste ano. Entretanto, ele lembra que tudo isso depende de como será a relação de Trump com os chineses. Em sua campanha, o presidente dos Estados Unidos ameaçou adotar medidas comerciais contra a China caso fosse eleito.
“Dependendo do que o Trump fizer em relação à China, pode afetar o Brasil. A China é o maior importador de commodities do mundo. Se os EUA adotarem medidas contra o país asiático, a China vai ter de exportar menos para os EUA, com isso vai comprar menos matéria-prima. Reduzindo a demanda da China, certamente os preços vão cair. Cai preço, cai quantidade e aí o Brasil seria duplamente afetado”, destaca Castro.
Pessimismo – O sócio e gestor de fundos da L2 Capital Partners, Marcelo López, vê o cenário de forma mais pessimista e acredita que a recuperação global não virá neste ano. Para López, 2017 ainda apresenta muito riscos de turbulências em todo o mundo, inclusive na própria economia chinesa.
“A China é uma ‘bolha’ esperando um alfinete para ser estourada, porque tem bolha no setor imobiliário, nas commodities, nas ações. E os EUA não estão muito diferentes. Vejo muito mais chance de termos algum problema do que um bom ano”, pondera.
Sobre o projeto de investimentos em infraestrutura de Trump, López avalia que mesmo que ele siga adiante, os reflexos não serão sentidos de imediato pela economia brasileira. “Ele (Trump) precisa aprovar isso antes no Congresso – o que deve demorar pelo menos um ano – e ainda que ele faça tudo o que prometeu, nós não sentiremos agora, não”, avalia.
O analista da Tendências Consultoria, Walter de Vitto, também não visualiza uma retomada para este ano. O especialista, entretanto, afirma que a economia global vai continuar crescendo, só que em ritmo moderado. Quanto ao Brasil, Vitto projeta que, mesmo sem a recuperação, o País continuará sendo competitivo na produção de commodities e conseguirá conviver em um contexto de preços menos estimulantes.
“A gente não enxerga nenhuma grande aceleração ou retomada do crescimento mundial. Vai ter um crescimento maior, mas não dá para se falar em recuperação. A gente não tem esse cenário. A economia vai continuar crescendo, mas em ritmo moderado”, observa.