Entrevista ao DCI

Juro baixo incomoda e já incentiva a migração de renda fixa para variável

Relatório preliminar da Anbima mostra que cotistas sacaram recursos de carteiras de curto prazo e DI e aportaram em fundos de ações e multimercados, com possibilidade de melhor rendimento

Ernani Fagundes

São Paulo – No mês de setembro até o dia 26, os fundos de investimentos em renda fixa registraram resgates de R$ 4,105 bilhões, enquanto as carteiras de ações receberam aportes líquidos de R$ 2,36 bilhões, e os multimercados, uma entrada de R$ 6,53 bilhões no período.

Os dados preliminares são do relatório consolidado da Associação Brasileira das Entidades do Mercado Financeiro e de Capitais (Anbima) divulgado na sexta-feira.

Essa movimentação em setembro – na visão de profissionais consultados pelo DCI – indica que o patamar de juros mais baixos está incomodando os cotistas, que começam a buscar alternativas para recompor os ganhos.

“Um fundo DI [depósito interfinanceiro] conservador que rendia 1% ao mês quando a Selic estava em 14,25% ao ano, agora rende líquido [descontado os impostos e taxas] 0,5% ao mês”, comparou o diretor da gestora Smartquant Investimentos, Antonio Domiciano.

Na avaliação do gestor de recursos da L2 Capital Partners, Marcelo López, além das pessoas físicas, a queda dos juros também impacta os investidores institucionais. “Há fundos de pensão com metas atuariais de inflação mais 6% ao ano, esses serão obrigados a correr mais riscos e começam a olhar para fundos de ações com dividendos”, afirmou López.

Sobre o cenário para renda variável (fundos de ações), o gestor argumenta que a economia sinaliza uma perspectiva mais positiva após atravessar uma crise econômica prolongada. “O Caged mostra geração de empregos, o programa de concessões e privatizações caminha”, afirma.

López lembrou do leilão de usinas elétricas (antes, da Cemig) e da rodada de campos de petróleo e gás – ocorridos na semana passada – e que atraíram investidores estrangeiros, e do plano do governo de privatizar a Eletrobras. “O Estado vai diminuir de tamanho”, diz.

Mesmo com algumas incertezas sobre a próxima eleição presidencial, Domiciano, da Smartquant, considera que não há espaço para candidatos que não respeitem a Lei da Responsabilidade Fiscal (LRF). “A conjuntura leva para um candidato comprometido com as reformas e o ajuste fiscal”, considera o diretor.

Quanto ao cenário para renda fixa, Domiciano prevê ainda que a inflação ficará controlada por um período duradouro, e em consequência, a taxa Selic, estabelecida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) também deverá ficar baixa.

“O País sempre viveu sobressaltos, e o BC tinha que subir os juros. Desta vez é diferente, essa redução é algo novo em termos de Brasil. A inflação está controlada e o BC está reduzindo a Selic para ativar a economia”, diz o diretor.

Dominiciano citou que entre 2012 e 2013 quando os juros ficaram entre 7,25% e 8% ao ano, todos os analistas e economistas advertiam que a inflação estava subindo, e que o Banco Central teria que subir os juros em algum momento, como, de fato, ocorreu depois até atingir o pico de 14,25% ao ano em julho de 2015.

Rentabilidade e captação

As projeções da Anbima estimam que os fundos de renda fixa da categoria simples tiveram retorno de 0,51% em setembro; ao passo que os fundos de duração baixa e risco soberano projetam rentabilidade bruta de 0,64% no mês, e as carteiras de duração baixa e grau de investimento, ganhos de 0,66% antes dos impostos.

Nos multimercados, a subcategoria macro apresentava ganhos de 1,98% até dia 26, e a subcategoria multimercados livre ganhos de 1,36% até a mesma data. Nos fundos de ações, carteiras indexadas ao Ibovespa fecharam setembro com valorização de 4,88%.

“Em três ou quatro anos, 2020 ou 2021, o Ibovespa pode dobrar de valor. O índice da bolsa está no mesmo patamar que estava em 2008, são quase 10 anos, tem muita correção pela frente”, disse Domiciano.

Na realidade atual, a captação líquida no ano de 2017 até 26 de setembro ainda é liderada por fundos de renda fixa, com R$ 98,73 bilhões, seguido por R$ 73,514 aplicados em multimercados; R$ 28,767 bilhões em planos de previdência; e R$ 2,4 bilhões em fundos de ações em igual período.

Ao todo, a indústria brasileira de fundos de investimentos já captou R$ 203,98 bilhões no ano até 26 de setembro, sem incluir os aportes em fundos estruturados e off shore. O patrimônio incluindo essas últimas categorias restritas ao varejo soma R$ 3,98 trilhões.

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