Regina Pitoscia
11 Outubro 2017 | 01h20
A queda dos juros tem encolhido e nivelado a remuneração da renda fixa. Caderneta, títulos e fundos de renda fixa estão rendendo muito próximo de 0,5% ao mês. E a tendência é que a rentabilidade caia ainda mais nesse segmento, com novos cortes na taxa Selic. Só que esse é um porto seguro para quem não quer correr maiores riscos. E a regra não muda: quanto mais longo o prazo da aplicação, mais atraente é a rentabilidade.
Nesse momento de juros em baixa e sinais de crescimento em alta, a aplicação em ações acena com um rendimento mais interessante, mas para quem se dispõe a correr algum risco. Seja pela compra direta dos papeis, seja por meio dos fundos de ações. E aí o dinheiro que vai para a bolsa de valores não pode ser o que tem data certa para sair. Vai que você precisa resgatar no momento de queda da bolsa? O prejuízo é certo.
Segundo o gestor especializado em investimentos no Exterior, Marcelo López, da L2 Capital, o setor de imóveis é outro que ganha atratividade em cenário de juro baixo e pode abocanhar parte dos recursos que estão em busca de remuneração mais gorda.
Fundos imobiliários e Letras de Crédito Imobiliário (LCI), duas opções de base imobiliária, estão aí para retomar o brilho. Até porque estamos falando de ativos que ficaram às traças nos últimos anos, com desvalorização de preços, e agora tendem a uma recuperação.
O gestor explica que os fundos multimercados também se juntam a ações e imóveis no leque de opções que podem proporcionar uma rentabilidade diferenciada. São fundos que mesclam a carteira com títulos de renda fixa e de renda variável, negociados tanto no País como no Exterior.
Pelo mundo
López afirma que há no mercado internacional opções de investimento com perspectiva de ganhos mais atraentes. Conhecer as forças e os movimentos dos diferentes países pode ajudar. E navegar por mares desconhecidos não dispensa ainda a ajuda de uma bússola em serviços de consultoria e orientação de profissionais especializados.
Europa
Alex Fuste, economista-chefe global do Andbank, banco europeu especializado em gestão de patrimônio, esclarece que mercados desenvolvidos e maduros, especialmente em países da Europa, trabalham com juros rasteiros, para não dizer negativos.
São efeitos ainda da crise financeira global de 2008, mas, em relação ao mercado de ativos, alguns países se diferenciam dos outros. O economista faz uma distinção para Alemanha, Holanda, Finlândia, Dinamarca, Suécia e Estônia. Essas economias oferecem boas oportunidades de ganho com ações, porque dispõem de caminho do dinheiro bem estruturado e, por isso, conseguem atrair capitais.
Outros países da região, segundo Fuste, perdem atratividade para investimento em ações, bastante sensível a eventos políticos e econômicos. A Itália sofre de deficiências estruturais em meio ao baixo crescimento, necessidade de reformas econômicas e resistência ainda à integração com a zona do euro. França e Espanha convivem com incertezas políticas: o primeiro pelo crescimento da onda populista e o segundo pelo movimento separatista na Catalunha, no nordeste da Espanha.
São condições que geram insegurança e precisam ser consideradas porque podem tornar contraindicado o investimento em ações nas bolsas de valores desses países.
As incertezas com a política vão além desses países para quem aplica em ações. O especialista do Andbank ressalta que a saída do Reino Unido da União Europeia lança dúvidas sobre as consequências econômicas desse evento para os demais países da região. Alguns deles, como a Alemanha e a França, incomodados também com a ascensão de partidos populistas nas últimas eleições.
Um cenário que parece prometer mais dificuldades ao avanço da integração na zona do euro e poderia pôr em xeque o próprio futuro da moeda única. Para o economista, não se aposta no colapso da Europa, mas os percalços poderão fazer o Velho Continente perder terreno em relação aos demais países desenvolvidos
López aponta outro risco no front internacional, derivado da combinação de fartura de recursos e juros baixos: a formação de supostas bolhas, sobretudo imobiliárias. Distorções que podem pôr em risco, segundo especialistas, até mesmo a solidez do Deutsche Bank, banco alemão que detém posição alavancada de recursos, em relação a seu patrimônio, superior ao volume do PIB alemão.
A saturação desses mercados e o baixo rendimento levam os investidores a olhar para países emergentes. Entre eles a Índia, que para alguns pode tornar-se, em ritmo de crescimento, a China dos anos 90.
Argentina
Os títulos da dívida argentina estão oferecendo um rendimento atraente e Fuste afirma que esses títulos acenam com boas perspectivas de ganho. Ele avalia que o país tem mais clareza em seu futuro político e, com a execução de reformas, amadurecimento e responsabilidade em honrar sua dívida. Não haveria possibilidade de recaída de calote.
Já Marcelo López considera ser alto o risco para aceitar com tranquilidade o rendimento mais gordo oferecido pela dívida argentina. “Há no mercado internacional outras opções com rentabilidade tão interessante quanto esses títulos da dívida argentina.” O gestor cita como exemplo, papeis de empresas australianas, especificamente mineradoras.
Ásia
No Japão, a liquidez é bem restrita porque 60% da dívida, na forma de títulos públicos, está com o governo, 30% com os fundos de pensão e apenas 10% são bônus do governo, como contabiliza o economista-chefe do Andbank.
Embora o juro esteja perto de zero ou negativos, os japoneses insistem em poupar em vez de consumir, o que vai contra o Abenomics, a política de estímulo ao consumo adotada pelo primeiro ministro Shinzo Abe.
A China, país que lidera o eixo de poder econômica na Ásia, deve continuar crescendo, embora em ritmo mais moderado. “É uma fonte de estabilidade, com perspectiva de retorno saudável” complementa Fuste.
López diz que o grande desafio do governo chinês é administrar a transição por que passa a sociedade chinesa, com a migração de famílias da zona rural para as cidades, atendendo as necessidades de habitação e criação de empregos, principalmente.
Estados Unidos
A expectativa com os Estados Unidos continua focada na perspectiva de elevação dos juros. Uma alta da remuneração nos títulos americanos atrai capitais de outros mercados, especialmente dos considerados emergentes, para os EUA.
Mas quando de fato se concretizar, isso não deverá provocar um grande impacto por aqui, explica o estrategista do Andbank, Luís Eduardo Pinho. O movimento de elevação dos juros americanos é esperado e não terá sido uma surpresa. Além disso, a maioria dos países estão em situação confortável com as contas externas e estoque de reservas internacionais.
Assim, uma eventual saída mais forte de dólares daqui para os EUA tende a provocar pressão sobre a cotação da moeda americana, sem, contudo, gerar crise cambial ou no balanço de pagamentos.
Outras regiões
Mais riscos são encontrados em outros mercados de países mais periféricos, como na África e no Oriente Médio e até em alguns da Europa, em geral por causa de conflitos e guerras regionais. O risco cresce à medida que esses conflitos, ainda que locais, despertam interesse e participação de potências mundiais ou regionais.
http://economia.estadao.com.br/blogs/regina-pitoscia/a-procura-de-um-rendimento-diferenciado-aqui-e-la-fora/