Por Marcelo López
Ouro é um metal que sempre exerceu fascínio, inclusive sobre nós. Nos últimos meses, sua popularidade tem crescido substancialmente, refletida no recente recorde de seu preço nominal. Esse marco tem atraído uma onda crescente de especuladores e investidores para o metal amarelo.
Absolutamente todos os analistas e estrategistas estão recomendando exposição à commodity, reforçando a visão de que ele é um metal que acompanha a inflação, ou seja, não perde valor com o tempo, fato esse que corroboramos.
Percebemos o que está acontecendo com o mundo e acreditamos que o ouro seja uma excelente maneira de proteção contra a perda do poder de compra. Temos afirmado isso consistentemente ao longo dos anos, portanto não há novidades aqui.
A questão que permanece é: até onde pode chegar preço do ouro? E esse é um problema antigo, que depende somente de uma variável, no nosso entendimento: o investidor ocidental. Quando investimos em urânio, afirmávamos que o preço do metal era praticamente irrelevante para o comprador final, o que era verdade. Contudo, e quanto ao preço do ouro?
Para início de análise, consideremos quem são os grandes compradores: China, Índia, Rússia, Irã e Turquia, não necessariamente nessa ordem. Observamos que, quando o preço do ouro sobe muito ou muito rapidamente, esses compradores tendem a ficar à margem e a se afastar. Isso faz com que não haja sustentação no preço do ouro, fazendo-o recuar na sequência.
Nos últimos anos, temos observado a participação crescente de alguns bancos centrais, inclusive do Brasil, nesse mercado. Isso é um indicador positivo e alvissareiro.
Como parte inerente do nosso trabalho, visamos compreender profundamente as teses de investimento e selecionar uma ou duas que realmente façam sentido, ou seja, teses cuja relação risco-retorno seja extremamente favorável. Temos algumas reservas com relação ao investimento em mineradoras de ouro, afinal, como aparentemente teria dito Mark Twain, uma mineradora de ouro é um buraco no chão com um mentiroso em cima. No entanto, gostamos de explorar as oportunidades e estudamos o assunto no ano passado.
Naturalmente, analisamos algumas mineradoras já estabelecidas, bem como empresas que trabalham com o ouro, atacadistas, varejistas e similares. Infelizmente, nenhuma dessas passou pelo nosso rigoroso e estreito filtro. Não porque sejam necessariamente ruins, mas porque o upside não compensa o risco. Conseguimos identificar empresas melhores e com maior potencial de alta em outros setores, como o de metais do grupo da platina (PGMs).
Estou em Shanghai no momento e aproveitei para visitar alguns joalheiros e tentar conversar com eles. Houve uma grande “corrida para o ouro” há alguns meses, mas agora o comprador final parece ter recuado e o preço se estabilizou. Abaixo estão quatro grandes varejistas de ouro que visitei. Observei poucas pessoas dentro das lojas, grandes instalações vazias.
Passei várias horas visitando essas empresas em diferentes momentos do dia e o resultado foi o mesmo. Claro, foi somente um dia e foram poucas conversas (poucas pessoas aqui falam inglês e menos ainda estão dispostas a discutir negócios com estrangeiros), mas isso já foi suficiente para ter uma noção do que está realmente acontecendo.
Podemos observar também o que vem acontecendo com as ações da A-Mark, uma grande vendedora de ouro e metais preciosos no Ocidente. Suas ações dispararam há alguns meses, passando de US$ 25 para mais de US$ 40. No entanto, cederam um pouco e agora estão sendo negociadas a pouco mais de US$ 33,50.
Para ser claro, gostamos do ouro e acreditamos que todos deveriam ter uma exposição a ele, de preferência na forma física e de fácil acesso. O Oriente está e sempre esteve bullish. Os bancos centrais parecem estar bullish. No entanto, continuamos afirmando que um verdadeiro bull market do ouro só acontecerá quando o Ocidente também se encantar com o metal amarelo.