O momento para a economia brasileira é, aparentemente, bom. Mudanças na política e possíveis melhoras econômicas despontam no horizonte. Se o Brasil não estivesse no planeta Terra, essa perspectiva seria mais fácil de se concretizar.
Infelizmente, temos que observar o que acontece no mundo, já que isso tem implicações diretas no Brasil, ainda mais na condição fragilizada e vulnerável em que ele se encontra.
Aproveitando a calmaria, queremos chamar a atenção para alguns fatos que julgamos importantes e que não estão sendo devidamente precificados.
O primeiro deles, e mais óbvio, é o Deutsche Bank (já escrevemos sobre ele em outubro do ano passado, abril desse ano e novamente na nossa carta semestral). O valor que o DB possui em derivativos é quase 20x o PIB da Alemanha, o que o torna um grande problema. Alguns analistas acham que o problema para aí – não nós. Como o DB tem posições com outros grandes bancos, um default em uma posição afetará diretamente outro banco. Assim, preferimos ficar de fora do setor bancário em geral. Deutsche Bank, Credit Suisse, Barclays, Wells Fargo, etc têm mais problemas que podemos imaginar.
A bolha chinesa também é um grande risco para os mercados. No ano passado, a China desvalorizou sua moeda em pouco mais de 3% e as consequências foram nefastas para os mercados emergentes (vale lembrar que o real derreteu nesse período). Desde então, a China continua desvalorizando sua moeda, mas os mercados pararam de dar atenção a esse fato. Grandes investidores como Kyle Bass e George Soros apostam em uma maxi-desvalorização da moeda chinesa (nós também acreditamos nesse cenário) e, quando ela vier, trará grandes problemas para o Brasil. Os bancos chineses estão alavancados, o mercado imobiliário está nas alturas e as dívidas não param de subir. Não precisa de muito para saber que isso não vai acabar bem.
Na Europa, a situação não é muito melhor. Começando pela Itália, que terá seu referendo sobre a permanência na Zona do Euro em 4 de dezembro. Uma possível saída da Itália irá desencadear um desejo de saída generalizada – e, possivelmente, o fim do euro como é. Além do mais, os bancos italianos estão a um fio da insolvência. Com a taxa de juros zero (e, em alguns casos, negativa), os bancos italianos não têm como se recapitalizar – os NPL (empréstimos de liquidação duvidosa) que já estão altos, devem subir ainda mais, trazendo caos para esse mercado.
Na Grécia, continua o mesmo problema – sempre pegando dinheiro emprestado para pagar o dinheiro que ela deve! Não faz o menor sentido, mas os mercados continuam ignorando isso.
Espanha deve ter novas eleições ainda esse ano (a terceira em 2016). O Reino Unido optou por sair do mercado comum europeu. As taxas de juros estão negativas na Suíça, Dinamarca e Suécia.
Conflitos no Oriente Médio, Mar do Sudeste da China, Ucrânia e atentados por todos os lados. Não descartamos a possibilidade de uma guerra.
Porto Rico entrou em default (e, provavelmente não será o único território dos EUA a fazê-lo), provando que a situação não está boa e a economia norte-americana não está em recuperação. Aliás, com quase 100 milhões de desempregados e mais de 30 milhões de americanos no programa de food stamps, recuperação é algo que não existe!
Bolhas nas economias japonesa, chinesa, americana, europeia, australiana, canadense, etc. E não estamos vendo os mercados acionários muito vibrantes. Na verdade, os volumes têm caído bastante, apesar dos “melhores esforços” dos Bancos Centrais.
Para se ter uma ideia do tamanho da bolha, vale saber que os Bancos Centrais estão imprimindo quase USD200 bilhões todo mês (USD180 somente do ECB e do BOJ). E as ações se recusam a subir (cada vez o breadth é menor).
O Banco Nacional da Suíça está comprando ações diretamente (pode acreditar, imprimindo dinheiro do nada e usando-o para comprar ativos reais – já mencionamos que vamos acabar todos servos desse pessoal). O BOJ também faz isso, mas pelo menos tem a decência de tentar nos enganar, comprando ETFs, em vez das ações diretamente!
O BoE (Bank of England) acabou de cortar as taxas de juros e aumentou seu programa de QE.
E o FED, como já mencionamos inúmeras vezes, não pode subir a taxa de juros sem estourar a bolha que ele mesmo criou. Assim, temos muitas palavras e nenhuma ação! Como já dissemos em vários posts anteriores, nem mulher de malandro aguentaria isso. São 8 anos dizendo que vão subir os juros, que a economia vai bem, sendo que nunca o fazem!
O momento não é para ser ganancioso, muito pelo contrário. Mas estamos vendo portfolios com exposições a bonds de longo-prazo, correndo um risco altíssimo e desnecessário. Estamos vivendo tempos onde a cautela deveria imperar, mas não é isso que estamos vendo nos mercados.
Recomendamos alocações em renda fixa no exterior com vencimentos curtos (2020 no máximo), posições táticas em algumas empresas e exposição ao ouro e a prata.
Vale lembrar que nossos portfolios no exterior estão subindo quase 20% esse ano, com baixo risco.